“Para mudar o mundo, primeiro é preciso mudar a forma de nascer” - Michel Oden

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Toques vaginais excessivos (ou existem outras formas de ver o desenvolvimento do trabalho de parto)

Duas mensagens da parteira Odete Pregal na lista Parto Nosso, numa conversa sobre os toques vaginais no final de gravidez para verificar dilatação. 
Meninas bonitas, deixa eu dar um pitaco? Tenho percebido quanta ansiedade causa essa coisa de realizar toque no final da gestação. Prestem atenção no que vcs deixam os GOs (ginecologistas obstetras) fazerem com vcs. No final da gestação é normal o colo afinar e iniciar a dilatação, porém só vai ocorrer a dilatação progressiva com a instalação do trabalho de parto ativo. Daí tem colo que fica fechado até iniciar o tp (trabalho de parto) e tem colo que fica fino e com 5cms até um mês. Logo quando se realiza o toque sem estar em tp ativo só se pode encontrar na maioria das vezes colo fechado grosso e posterior, sem que isso diga que vai demorar ou não para nascer. A ansiedade diminui a chance de entrarem logo em tp pq bloqueia a ocitocina (hormônio que rege o trabalho de parto), dai depois de varios toques o GO chega para vc e diz não tem jeito vc não tem passagem, o colo continua com 2cm, temos que partir para cesarea, ops contei.Toda mulher tem o direito de negar o toque a não ser que esteja sentindo alguma coisa que leve a necessidade de avaliar o colo (negrito meu) e mesmo assim o toque não interfere no nascimento do bebê, pelo contrário quanto mais há toques mais podemos inibir a gestante, que em vez de se abrir como uma rosa se fecha como uma ostra, pensem nisso. Curtam a gravidez ate o último momento, vai demorar para sentirem o bebe mexer em seu ventre novamente, vão sentir saudades desse momento único para um ser vivo, exclusivo da mulher. Não tenham pressa, cada momento é unico e não volta, mesmo porque tudo tem sua hora. Espero ter ajudado de alguma forma, a preservar seus corpos e mentes contra a violencia sutil. Bjs mil Oete Pregal
Numa sequência, então se perguntou sobre como acompanhar a evolução do trabalho de parto, sem a necessidade de se fazer toques. Então foi lembrado da linha púrpura, que funciona para algumas mulheres (a gente fala disso em outro post) e da Leitura do Corpo, que é como as parteiras vêm o trabalho de parto sem serem invasivas, somente observando a mulher.

Uai Jo, muito bem lembrado, a leitura do corpo, além das contrações irem ficando cada vez mais perto e intensas, isso vê-se pela própria pele do abdome que estica durante a contração, principalmente nos abdomes que não têm muito tecido adiposo, a mulher vai mudando o comportamento que no início do trabalho de parto ela conversa e fala o que quer, fica no meio das pessoas, com o progredir do tp ela se esconde e quase não fala, além do timbre de voz ficar mais roco parecendo que tem algo entalado, já que a boca, na leitura do corpo, tambem equivale a sensação da vagina. Reconhecemos tambem pelo passo de bailarina que a mulher adota ,lá pelos 8cms mais ou menos, ela anda de um lado para o outro meio que nas pontas dos pés,e por último a secreção que escorre lubrificando toda a vagina que infelizmente muitos profissionais teimam em limpar com a compressa, mais a posição que a mulher adota de pernas abertas, seja da forma que for ela quer estar com as pernas abertas. Acho que não esqueci nada rsrsrs, bjs mil Odete Pregal.
#por uma forma mais respeitosa de nascer - ficaadica *-*

terça-feira, 3 de julho de 2012

O benefício da Dúvida

Sabe, se tem uma coisa que trás consigo potencial efetivo de progresso e melhora para as mais diversas situações, essa coisa é a dúvida.
Se dê o benefício da dúvida.
Será que estou certa?
Será que o que estou fazendo é o melhor que posso fazer?
Mas não é a dúvida insegura ou carente de autoconfiança.
Pelo contrário, é uma duvida energizada pelo entusiasmo da procura, da autêntica busca, aquela que corre léguas do conformismo e está atenta para a zona de conforto #essa que nos ronda a todo momento, é até bem vinda após uma luta, mas que precisamos ver se ela não se alimenta de nossos medos.
Dúvida que pode ser cruel, quando consome horas de sono. Mas pode ser frutífera se utilizamos as horas de insônia para pesquisar, espírito que investiga.
Será que o meu obstetra que disse que faz o meu parto normal tem limites? Será que ele tem medos? Será que ele conhece as recomendações de boas práticas da Organização Mundial de Saúde?
Será que o pediatra neonatal que vai recepcionar meu bebê conhece como é delicada a pele de um recém-nascido? Será que ele conhece as recomendações da medicina baseada em evidências? Ou vai querer pingar colírio, aspirar, pesar, medir, antes mesmo de colocar meu bebê sobre minha barriga para eu senti-lo e se ele quiser já poder mamar? Será que eu vou querer amamentar? Será que a equipe de minha médica é humanizada tanto quanto ela parece ser? Será que ela vai manter esse sorriso amável da consulta quando eu estiver urrando de dor? Será que ela vai saber me confortar ou vai logo me propor uma cesariana ou uma anestesia salvadora? Será que ela vai romper minha bolsa sem me avisar? Será que vai cortar a minha vagina com uma tesoura? Será que a cesariana que está marcada vai ser boa para mim e para omeu bebê? Será que a cesariana de emergência que eu passei foi mesmo necessária? Não havia mais nada que pudesse ser feito? E se eu estivesse com profissionais humanizados realmente? Mas o que é um parto humanizado?
As perguntas são tantas... o benefício de fazê-las e procurar por suas respostas é inestimável.

Eu sou uma mulher - Marina Colasanti

Poema lindo,
sobre a essência que nos diferencia dos homens...
Salve os nossos laços de sangue!
Doulaços,
 
**
 
Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.

Os homens vertem sangue
por doença
sangria
ou por punhal cravado,
rubra urgência
a estancar
trancar
no escuro emaranhado
das artérias.

Em nós
o sangue aflora
como fonte
no côncavo do corpo
olho-d'água escarlate
encharcado cetim
que escorre
em fio.

Nosso sangue se dá
de mão beijada
se entrega ao tempo
como chuva ou vento.

O sangue masculino
tinge as armas e
o mar
empapa o chão
dos campos de batalha
respinga nas bandeiras
mancha a história.

O nosso vai colhido
em brancos panos
escorre sobre as coxas
benze o leito
manso sangrar sem grito
que anuncia
a ciranda da fêmea.

Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.
Pois há um sangue
que corre para a Morte.
E o nosso
que se entrega para a Lua.

Como garantir uma amamentação prolongada - parte 1

Olá, querida amiga!
Você venceu os três primeiros meses de amamentação exclusiva! Parabéns!!! Está entre as melhores estatísticas da amamentação no Brasil. Sério! A média nacional de amamentação é de #fique bege, amiga# 22 dias! Isso, mesmo. Então, meus parabéns! Agora, sem preocupações sobre decida do leite, pega correta do bebê, bico que fica esfolado e tals, surgem repentinas e irrefutáveis dúvidas se terei leite assim pelo tempo que eu quiser e que for necessário. A dúvida começa assolando pelo fato de que os seios já não ficam tão inchados como no começo. Será que terei o leite necessário para a fome do meu filho?
A dúvida, já dizia o chavão, é cruel mesmo. Mas vamos lá, e por partes. ;-)
Primeira parte: o leite desceu, o bb pegou, mamou, está gordinho e cada vez mais crescendo. Uma constatação: seu corpo funciona. Ponto pacífico.
Segunda parte: como nosso corpo funciona bem, sabe que o bebê está crescendo. Sim. A conexão com a nossa cria é tão forte que o corpo produz exatamente o leite que ela necessita. Assim, o leite que um bb de 1 mês mama ao seio de sua mãe será bem diferente do leite que ele vai mamar qdo estiver às vésperas de 12 meses, ou 18, ou 23 meses...
Terceira parte: agora é com vc. Por quanto tempo vc vai querer amamentar é uma decisão pessoal e envolve tantos fatores quantos são os formadores de nossa personalidade, nossos hábitos familiares, ou os elementos da convivência com nossos entes queridos. Isso pra não dizer incontáveis, mesmo.
Mas podemos fazer um breve apanhado do que está sendo recomendado pelos órgãos de saúde nacionais e internacionais e por estudiosos da área.
Agora, tem uma coisa importante tb, que é como o leite é produzido. É importante o apoio do companheiro, da sua rede de apoio (familiares e amigos) e dos profissionais de saúde. Uma coisa a se saber é que o leite é produzido pelo estímulo provocado pela sucção do bebê. Ou seja, quanto mais ele mamar, mais leite terá. E sempre terá todo leite que mamar. Para isso, é importante ele mamar o quanto ele quiser e no tempo que ele precisar. Às vezes a mãe terá a impressão que seu filho "chupeita". Ele está a mamar não somente leite e nutrição para seu corpo. Está também a se alimentar do calor, do carinho e do aconchego da mãe, se recordando do maravilhoso tempo em que não havia fome em sua vida, em que toda sua alimentação era provida pelo cordão umbilical, este substituído pelo seio materno.

Bom, por enquanto é isso.

Inté,
Fernanda Leite - doula
 


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Oi, meninas,
 vendo vcs compartilhando as coisas com suas gestantes, sinto que estou em dívida com vcs. As coisas foram intensas, a experiência de acompanhar um parto é arrebatadora, e preciso dizer que acompanhei um trabalho de parto e parto, de uma multípara, 3ª gestação, 3º filho, 23 anos, gestação à termo, 39s e 2 dias, onde nasceu às 12:55 do dia 21 de junho, no HU, sem nenhuma intervenção, a Lara, pesando 3,200kg (eu acho). Foi doido. A gestante o tempo todo trabalhando junto, consciente, respirante profundamente, alta conexão, caminhando, agachando, rebolando, adorou o rebozo amarrando a barriga, pressão nas costas, banho de chuveiro e realizou um desejo que era tomar banho de espuma no trabalho de parto (feitas com bucha vegetal, sabonete e xampu que a mãe dela levou). Fiquei um pouco chocada com os procedimentos com o recém-nascido,com os procedimentos do pediatra neonatal e com o desconhecimsnto da médica qto à sanidade de não precisar romper a bolsa nem fazer episio (não fez as duas coisas pq pedi a ela), mas pariu deitada, mesmo tendo no hospital uma banqueta para parto verticalizado. Acho que não sabem como usá-la. Fiquei com ela, no hospital das 7 da manhã, até o nascimento e um pouco mais. Lara mamou maravilhosamente, com pega perfeita. A mãe estava radiante. Ao final me identifiquei como doula, pois havia entrado como acompanhante, coisa que impediu que eu me sentisse plenamente satisfeita (#acho que pode até ser que eu esteja sendo um pouco exigente com o sistema, né, mas a doula não pode entrar na vaga do acompanhante, é isso? Alguém pode dizer sobre a previsão pra estabelecimento da presença da doula nos hospitais e maternidades......?.....\o/) A técnica de compressão dos quadris, na altura da crista ilíaca, ela amou tb. Sorry pela demora em escrever. Vida um tanto corrida mais a passadisse que me deu de vivenciar um parto num hospital, mais o que eles fazem com o bb...Mas é isso. Valeu e vamos compartilhando pra gente se apoiar. Doulaços!!
Inté*-*
Fernanda Leite - doula

Boas práticas de atenção ao parto e ao nascimento de acordo com a OMS


Em 1996, a Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu uma classificação das
práticas comuns na condução do parto normal, orientando para o que deve e o que não deve ser
feito no processo do parto. Esta classificação foi baseada em evidências científicas concluídas
através de pesquisas feitas no mundo todo.

CATEGORIA A - PRÁTICAS DEMONSTRADAMENTE ÚTEIS E QUE DEVEM SER ESTIMULADAS:
• Plano individual determinando onde e por quem o nascimento será realizado, feito em
conjunto com a mulher durante a gestação e comunicado a seu marido/companheiro
• Avaliação do risco gestacional durante o pré-natal, reavaliado a cada contato com o sistema
de saúde
• Respeito à escolha da mãe sobre o local do parto
• Fornecimento de assistência obstétrica no nível mais periférico onde o parto for viável e
seguro e onde a mulher se sentir segura e confiante
• Respeito ao direito da mulher à privacidade no local do parto
• Apoio empático pelos prestadores de serviço durante o trabalho de parto e parto
• Respeito à escolha da mulher sobre seus acompanhantes durante o trabalho de parto e
parto
• Fornecimento às mulheres sobre todas as informações e explicações que desejarem
• Oferta de líquidos por via oral durante o trabalho de parto e parto
• Monitoramento fetal por meio de ausculta intermitente
• Monitoramento cuidadoso do progresso do parto, por exemplo, por meio do uso do
partograma da OMS;
• Monitoramento do bem-estar físico e emocional da mulher durante trabalho e parto e ao
término do processo de nascimento;
• Métodos não invasivos e não farmacológicos de alívio da dor, como massagem e técnicas
de relaxamento, durante o trabalho de parto
• Liberdade de posição e movimento durante o trabalho de parto
• Estímulo a posições não supinas durante o trabalho de parto
• Administração profilática de ocitocina no terceiro estágio do parto em mulheres com risco
de hemorragia no pós-parto, ou que correm perigo em consequência da perda de até uma
pequena quantidade de sangue;
• Condições estéreis ao cortar o cordão
• Prevenção da hipotermia do bebê
• Contato cutâneo direto precoce entre mãe e filho e apoio ao início da amamentação na
primeira hora após o parto, segundo as diretrizes da OMS sobre Aleitamento Materno
• Exame rotineiro da placenta e membranas ovulares

CATEGORIA B - PRÁTICAS CLARAMENTE PREJUDICIAIS OU INEFICAZES E QUE DEVEM SER ELIMINADAS:
• Uso rotineiro de enema
• Uso rotineiro de tricotomia
• Infusão intravenosa de rotina no trabalho de parto
• Cateterização venosa profilática de rotina
• Uso rotineiro de posição supina (decúbito dorsal) durante o trabalho de parto
• Exame retal
• Uso de pelvimetria por Raios-X
• Administração de ocitócitos em qualquer momento antes do parto de um modo que não
permite controlar seus efeitos
• Uso de rotina da posição de litotomia com ou sem estribos durante o trabalho de parto
• Esforço de puxo prolongado e dirigido (manobra de Valsalva) durante o segundo estágio do
trabalho de parto
• Massagem e distensão do períneo durante o segundo estágio do trabalho de parto
• Uso de comprimidos orais de ergometrina no terceiro estágio do trabalho de parto, com o
objetivo de evitar ou controlar hemorragias
• Uso rotineiro de ergometrina parenteral no terceiro estágio do trabalho de parto
• Lavagem uterina rotineira após o parto
• Revisão uterina (exploração manual) rotineira após o parto

CATEGORIA C -PRÁTICAS SEM EVIDÊNCIAS SUFICIENTES PARA APOIAR UMA RECOMENDAÇÃO CLARA E QUE DEVEM SER UTILIZADAS COM CAUTELA ATÉ QUE MAIS PESQUISAS ESCLAREÇAM A QUESTÃO:
• Métodos não farmacológicos de alívio de dor durante o trabalho parto, como ervas,
imersão em águas e estimulação dos nervos
• Amniotomia precoce de rotina no primeiro estágio do trabalho de parto
• Pressão do fundo durante o trabalho de parto
• Manobras relacionadas à proteção do períneo e ao manejo do pólo cefálico no momento
do parto
• Manipulação ativa do feto no momento do parto
• Uso rotineiro de ocitocina de rotina, tração controlada do cordão, ou sua combinação
durante o 3º estágio do trabalho de parto
• Clampeamento precoce do cordão umbilical
• Estimulação do mamilo para estimular a contratilidade uterina durante o terceiro estágio
do trabalho de parto

CATEGORIA D - PRÁTICAS FREQUENTEMENTE USADAS DE MODO INADEQUADO:
• Restrição hídrica e alimentar durante o trabalho de parto
• Controle da dor por agentes sistêmicos
• Controle da dor por analgesia peridural
• Monitoramento eletrônico fetal
• Uso de máscaras e aventais estéreis durante a assistência ao trabalho de parto
• Exames vaginais repetidos ou frequentes, especialmente por mais de um prestador de
serviço
• Correção da dinâmica com utilização de ocitocina
• Transferência rotineira da parturiente para outra sala no início do segundo estágio do
trabalho de parto
• Cateterização da bexiga
• Estímulo para o puxo quando se diagnostica dilatação cervical completa ou quase
completa, antes que a mulher sinta o puxo involuntário
• Adesão rígida a uma duração estipulada do 2º estágio do trabalho de parto, como por
exemplo, uma hora, se as condições da mãe e do feto forem boas e se houver progressão
do trabalho de parto
• Parto operatório
• Uso liberal e rotineiro de episiotomia
• Exploração manual do útero após o parto

Fonte: http://educadoraperinatal-ongap.wikispaces.com/file/view/OMS+boas+pr%C3%A1ticas+de+aten%C3%A7%C3%A3o+ao+parto+e+ao+nascimento.pdf